Um dos maiores questionamentos feitos pelos pedagogos com relação à eficácia da educação a distância diz respeito à discrença que esses estudiosos possuem sobre o desenvolvimento de uma ferramenta que possibilite a substituição do professor. É exatamente neste ponto que encontramos um equívoco de idéias.
Pois os professores e pesquisadores de métodos de ensino enxergam claramente as nuâncias existentes na relação professor/ aluno e podem dizer com propriedade, quais habilidades e sensibilidades esses profissionais precisam ter e que ferramenta alguma substituiria com facilidade. No entanto, a finalidade dos estudos na área de educação a distância não é, ou pelo menos não deveria ser, encontrar mecanismos que permitam substituir o professor da sala de aula ou de qualquer outra de suas atribuições acadêmicas e socio-educativas. Pelo contrário, um dos principais objetivos da pesquisa em educação a distância deve ser, em tese, desenvolver ferramentas e processos que permitam ao professor multiplicar ao máximo suas formas de contato com o aluno, encurtando para o mínimo permitido as distâncias física, social e intelectual existentes entre os dois.
Um exemplo de pensamento nessa direção pode ser baseado na seguinte situação brasileria. No dia 17 de junho de 2009, foi publicada a reportagem “Transamazônica: quase 40 anos de polêmica e descaso“ do site Planeta Inteligente (acesso: http://www.flickr.com/photos/9183672/3650022801) que descreve um pouco da história e da situação atual da chamada “Transamargura” ou “Transmiseriana” (apelido dado por seus usuários à Rodovia Transamazônica).
A reportagem relata os gastos na ordem de R$950 milhões previstos pelo Governo para pavimentação de 835 quilômetros dos 5 mil que a estrada possue (sendo que o projeto inicial de 1970 previa 8 mil quilômetros de estradas). Até então, tudo normal, pois pavimentar e fazer melhorias em quase 1000 quilômetros de estradas não é nada barato. No entanto, veio a informação estonteante, segundo o Ministério dos Transportes, circulam diariamente nesta estrada cerca de 580 veículos.
De imediato veio o pensamento: - Gastar 1 bilhão de reais para o tráfego de menos do que seiscentos caminhões de madeira contrabandeada (pensamento de qualquer morador do sudeste) é um absurdo!! Meu dinheiro não nasce em árvore da Amazônia!
No entanto, é preciso avaliar melhor a situação, pois segundo o censo de 2007 a Região Norte possue perto de 15 milhões de habitantes. O problema é que eles estão espalhados por nada mais, na menos, do que 3,9 milhões de Km².
Peço desculpas pela Gigantesca digressão, mas era necessário para observarmos um problema que encontramos com certeza nessa região do país e que nossa discussão se alinha. Por exemplo, imagine fornecer educação de qualidade para a população dessa região. O quanto seria necessário de investimentos para conseguir transportar, aproximar, o professor e o aluno? Quanto tempo seria gasto? Será que aquele 1 bilhão de reais seria suficiente?
Agora outra informação interessante. A cidade de Santos no litoral do Estado de São Paulo planejava fazer, em 2009, um investimento de cerca de R$15 milhões para ampliar uma rede de 1Gbps de fibra ótica dos 25 km instalados para, em 2010, chegar em 200 km de fibra instalada. Vamos fazer a conta, 15 milhões dividos por 175 km de ampliação, encontramos aproximadamente, R$ 86 mil de investimento por km de fibra instalada.
Fazendo as ressalvas necessárias para uma comparação do tipo que desejo fazer, e claro, observando que o próximo cálculo é linear, faço a seguinte pergunta, quanto seria necessário investir para instalar 1000 quilômetros de fibra ótica no trajeto da Transamazônica? Para os que não querem usar a calculadora o valor é R$ 86 milhões. Isso mesmo, menos de 10% do que o Governo planeja investir na pavimentação daquele trecho da estrada.
O leitor pode estar questionando, qual a relação entre instalar fibra ótica no trajeto da Transamazônica com Educação a Distância? E a resposta é toda a relação possível, pois imagine qual poderia ser o ganho de tempo, dinheiro e qualidade na educação se disponibilizarmos acesso à comunicação instantânea entre o professor e os alunos? Imagine o leque de informações disponíveis que os professores poderiam trabalhar com os alunos? E com maior relação à nossa discussão, imagine a plataforma que ficaria disponível para implatação de ferramentas que permitiriam diminuir mais ainda a distância entre o facilitador da aprendizagem e a fome por conhecimento.
A idéia aqui não é julgar se investimentos na melhoria do transporte da região Norte do Brasil deve ser substituído por investimento em educação da população daquela região, mesmo porque é uma região que possui enorme carência de ambos os serviços, além de outros mais. No entanto fica a dúvida, os gastos e investimentos governamentais para melhoria do transporte e o desenvolvimento economico daquela região, não deveriam ser avaliados com relação à eficiência? Por exemplo, o Governo poderia adicionar 10% ao investimento naquela região e levar uma estrutura para acesso a informação semelhante à que foi feita no Estado de São Paulo, quando a concessionária de gestão das estradas paulistas passou cabos de fibra ótica por toda a extensão do canteiro das rodovias. O problema é se o Governo deseja investir na manutenção de uma estrada construída pela Ditadura, pelo mesmo motivo de seus idealizadores, promover o regime.
Mas o que se planeja com esse texto é apresentar, pelo menos, um dos benefícios que a pesquisa em Educação a Distância pode alcançar para desenvolvimento sócio-cultural deste país de dimensões continentais e com problemas estruturais semelhantes à ilhas desertas. Ao se desenvolver ferramentas para Educação a Distância, procura-se, nos limites que a tecnologia permite, multiplicar o professor de forma que este trabalhe seus alunos como um tutor faria com seu pupilo.
Olá Fábio, parabéns pelo blog. Gostei das suas reflexões. E estou plenamente de acordo com o que vc escreve sobre os LMS "encapsularem" tecnologias. Na minha avalição dos LMS, conf. solicitado pela Itana, faço uma crítica aos ambientes que analisei: eles lembram "clausuras", enquanto deveriam sugerir cavernas, serem labirintos intertextuais.
ResponderExcluirPor que vc não coloca aquele trocinho no seu blog que permite segui-lo? Quero seguí-lo, ou melhor, preciso seguí-lo, senão o Romero... Será um prazer seguí-lo porque vc é um cara atrevido: arrisca-se a pensar. Coisa rara...