A idéia do uso de novas tecnologias para apoio à aprendizagem não é algo recente no Brasil. Podemos tomar como exemplo disso o uso da televisão como meio de acesso aos Telecursos na década de 70, os microcomputadors na década de 80 e a Internet Comercial na década de 90. No entanto, a virada do milênio trazendo uma explosão de ferramentas de softwares e serviços disponíveis gratuitamente pela rede (os quais possuem complexidade e performance milhares de vezes maior do que sistemas milionários de décadas passadas), associada à crescente preocupação da sociedade brasileira com relação à escolaridade da população e à capacidade de crescimento do país, aumentaram a busca por soluções que atendam ao proposito do ensino.
Uma discussão recorrente neste contexto é sobre o papel do professor como balizador e avalista das soluções propostas. Não vamos questionar aqui a necessidade da existência deste profissional como peça fundamental para guiar os alunos na aprendizagem e na construção do conhecimento. Dessa forma, podemos focar esta reflexão no uso que o professor faz das ferramentas a ele apresentadas e no sucesso que a aplicação delas pode conquistar, ou seja, que o aluno aprenda mais e mais rápido.
É enorme a gama de ferramentas e aparatos tecnológicos desenvolvidos com a finalidade específica de complementar ou substituir o quadro negro, ou inicialmente desenvolvidos para outras aplicações que não a de aprendizagem, mas que num segundo momento podem ser adaptadas para isto. Num conjunto mais restrito dessas aplicações, por exemplo, as desenvolvidas para Internet ou que utilizam a rede, ainda assim, encontraremos um número significativo.
Dentro desse conjunto podemos elencar recursos que vão desde softwares anteriormente proprietários e não compartilháveis como uma planilha MS Excel (ou mesmo ferramentas para desenho de funções) chegando até aos atuais Sistemas para Gerenciamento da Aprendizagem (Learning Management System – LMS), observamos ainda aplicações mais simples como e-mail, chat, vídeo conferência e os repositórios de arquivos texto, de som e imagem. Estas ultimas foram empacotadas para criar alguns dos Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo (Content Management System – CMS) precursores dos LMSs.
O objetivo de descrever este pequeno histórico é suscitar algumas questões que já podem estar sendo respondidas através de pesquisas ao redor do Brasil, mas que ainda não são amplamente conhecidas.
# Qual o grau de penetração das aplicações de apoio à aprendizagem no trabalho realizado pelo professor, o quanto os professores utilizam essas aplicações?
# Quais as aplicações “realmente” mais utilizadas? Não interessa quais são mais adotadas pelas instituições e sim quais os professores realmente absorvem no seu dia a dia e agregam ao seu trabalho? Imagine um Contador de uma determinada empresa que é obrigado a apresentar seu trabalho no MS Excel, mas continua fazendo os cálculos numa calculadora comum, ele está utilizando a nova ferramenta?!
# Quanto de energia e tempo são gastos pelo professor para absorver e aplicar essas novas tecnologias no trabalho dele?
# Quais são as verdadeiras barreiras para a adoção de uma determida ferramenta pelo professor?
E acredito as principais questões:
# Quais são as motivações para o professor fazer uso de uma nova ferramenta ou processo?
# O desenvolvimento de tecnologias mais sofisticadas e/ou mais interativas é realmente o caminho para encontrar a aceitação do professor e motivá-lo no uso desses recursos?
Para iniciar uma discussão mais profunda sobre as questões acima, podemos considerar as seguintes observações e dados:
- Segundo pesquisa do IBOPE Nielsen Online, publicada em 11/02/2010, o número de internautas no Brasil chegou a 66,3 milhões em dezembro de 2009;
- Publicada na Wikipédia, o Orkut possuia em janeiro de 2008 mais de 23 milhões de usuários brasileiros, o que representava 53% dos usuários da rede social;
- Conforme reportagem publicada no jornal O Globo em 17/08/2009, o Windows Live Messenger, vulgo MSN, alcançou 330 milhões de usuários no mundo sendo que 45 milhões deles são brasileiros (maior número de usuários do MSN num mesmo país);
- O caderno Link do Estadão.com.br de 13 julho de 2009 traz a informação que cerca de 2,7 milhões de brasileiros possuem uma conta no Facebook e a procura pela maior rede social do mundo, atualmente, continua crescendo;
- O novo produto do IBOPE Nielsen Online, o VídeoCensus, publicou no ultimo trimestre de 2009 informações sobre o consumo de vídeos pela internet. O Brasil já tem mais de 60% de seus internautas navegando em sites de vídeos.
Não precisamos considerar aqui a questão se um determinado internauta possui ou não e-mail, primeiro porque a criação de uma conta é a porta de entrada no acesso a rede (RG do internauta) e segundo porque para os nativos digitais, e-mail já se tornou coisa do passado!! Por outro lado, conhecimento sobre ferramentas e repositórios não divulgados em massa, ou que não possuem atrativos comerciais, pode ser questionado com relação a atingir um público de magnitude descrita anteriormente. Por exemplo, qual a quantidade de usuários do Google Docs? Quantos internautas utilizam os grupos de discussão eletrônicos, tais como o Yahoo Groups e Google Groups, ou mesmo as ferramentas de comunicação para criação de Blogs e Foruns, tais como o Blogger e Wordpress?
Mesmo com estas incógnitas em mente, podemos imaginar que dentro do conjunto desses usuários de todas essas aplicações existe um percentual que informa em seu perfil sua profissão: - Professor. A representatividade desses Usuários Professores com relação ao universo de internautas, pode não ser igual ao percentual de profissionais do ensino na sociedade, pode até ser maior, visto que pessoas com acesso a internet possuem maior grau de instrução, ou seja, mesmo sem o respaudo dos números e de pesquisas mais recentes, poderiamos supor que o número de Usuários Professores é significativo, principalmente, porque em sua maioria os professores pertencem às classes sociais com acesso a esses recursos de tecnologia. No entanto, o que poderiamos supor sobre o uso profissional que o professor faz desses mesmos sistemas e recursos?
Dentro do seu ambiente de trabalho, e mais especificamente nas instituições privadas, o professor pode ser obrigado a utilizar as ferramentas adotadas pelo seu contratante e, consequentemente, possuir uma conta de “usuário” do LMS, ou qualquer que seja o recurso “disponibilizado” para “auxiliá-lo”. Mas o que realmente motivaria o Profissional Professor fazer uso de tais aplicações com empenho e dedicação semelhantes aos que o Usuário Professor faz dos recursos que ele até mesmo aprendeu por conta própria?
Um ponto interessante dessa questão é o fato de que muitas das ferramentas adotadas pelas instituições, como os LMSs mais comuns (blackboard, sakai, moodle, etc...), não apresentam novidades tecnológicas com relação às aplicações já disponíveis pela rede, em alguns casos elas apenas encapsulam tais aplicações (recursos) numa administração e estrutura única, a qual fica vinculada à uma hierarquia de controle (guarda-chuva da instituição).
Este mecanismo de controle é uma característica comum nessas ferramentas e, geralmente, basea-se na estrutura de cursos e departamentos, sem o foco no professor. Fazendo-se uma análise mais criteriosa, este paradigma da hierarquia pode ser um dos empecílios para adoção do recurso pelo Profissional Professor.
Outro ponto de igual importância diz respeito ao Usuário Professor não fazer uso, como ferramenta de trabalho, dos recursos já absorvidos no seu dia a dia pessoal, ou seja, utilizá-los como Profissional Professor. As razões para isso podem ser desde a falta de treinamento nos recursos para encontrar outras funcionalidades (aplicações na sua atividade profissional), até a questão de não receber incentivos, principalmente monetários, para realizar esse trabalho “extra” aula. Também devemos verificar a questão dessas pessoas que farão uso profissional de tais ferramentas, precisarem ser mais qualificadas, pois terão tarefas mais complexas e demoradas, o que exige maior remuneração e melhor formação.
Esta reflexão não visa servir como documento, ou argumentação da falta de utilidade dos recursos desenvolvidos até hoje, ou mais grave ainda, não é intenção desse texto criticar (negar) a busca por melhores ferramentas ou soluções de apoio à aprendizagem! Mesmo porque as informações acessíveis ao público no geral, e até mesmo disponíveis para os atores do processo educativo, não são suficientes para cunhar tal afirmação.
Pelo contrário, o objetivo aqui é fomentar a discussão a respeito das reais necessidades do Profissional Professor, para que este adote novas tecnologias e processos no dia a dia de seu trabalho, analisando principalmente, questões de relacionamento (contrato) com a instituição de ensino, de autoria do conteúdo, de formação do profissional e de motivação. Um dos resultados esperados seria a construção de uma pesquisa que possibilite uma análise mais profunda desse problema.
As centenas de milhares (ou até mesmo milhões) de Usuários Professores dos mais diversos recursos tecnológicos podem estar nos dizendo que existe um “problema”.
Uma discussão recorrente neste contexto é sobre o papel do professor como balizador e avalista das soluções propostas. Não vamos questionar aqui a necessidade da existência deste profissional como peça fundamental para guiar os alunos na aprendizagem e na construção do conhecimento. Dessa forma, podemos focar esta reflexão no uso que o professor faz das ferramentas a ele apresentadas e no sucesso que a aplicação delas pode conquistar, ou seja, que o aluno aprenda mais e mais rápido.
É enorme a gama de ferramentas e aparatos tecnológicos desenvolvidos com a finalidade específica de complementar ou substituir o quadro negro, ou inicialmente desenvolvidos para outras aplicações que não a de aprendizagem, mas que num segundo momento podem ser adaptadas para isto. Num conjunto mais restrito dessas aplicações, por exemplo, as desenvolvidas para Internet ou que utilizam a rede, ainda assim, encontraremos um número significativo.
Dentro desse conjunto podemos elencar recursos que vão desde softwares anteriormente proprietários e não compartilháveis como uma planilha MS Excel (ou mesmo ferramentas para desenho de funções) chegando até aos atuais Sistemas para Gerenciamento da Aprendizagem (Learning Management System – LMS), observamos ainda aplicações mais simples como e-mail, chat, vídeo conferência e os repositórios de arquivos texto, de som e imagem. Estas ultimas foram empacotadas para criar alguns dos Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo (Content Management System – CMS) precursores dos LMSs.
O objetivo de descrever este pequeno histórico é suscitar algumas questões que já podem estar sendo respondidas através de pesquisas ao redor do Brasil, mas que ainda não são amplamente conhecidas.
# Qual o grau de penetração das aplicações de apoio à aprendizagem no trabalho realizado pelo professor, o quanto os professores utilizam essas aplicações?
# Quais as aplicações “realmente” mais utilizadas? Não interessa quais são mais adotadas pelas instituições e sim quais os professores realmente absorvem no seu dia a dia e agregam ao seu trabalho? Imagine um Contador de uma determinada empresa que é obrigado a apresentar seu trabalho no MS Excel, mas continua fazendo os cálculos numa calculadora comum, ele está utilizando a nova ferramenta?!
# Quanto de energia e tempo são gastos pelo professor para absorver e aplicar essas novas tecnologias no trabalho dele?
# Quais são as verdadeiras barreiras para a adoção de uma determida ferramenta pelo professor?
E acredito as principais questões:
# Quais são as motivações para o professor fazer uso de uma nova ferramenta ou processo?
# O desenvolvimento de tecnologias mais sofisticadas e/ou mais interativas é realmente o caminho para encontrar a aceitação do professor e motivá-lo no uso desses recursos?
Para iniciar uma discussão mais profunda sobre as questões acima, podemos considerar as seguintes observações e dados:
- Segundo pesquisa do IBOPE Nielsen Online, publicada em 11/02/2010, o número de internautas no Brasil chegou a 66,3 milhões em dezembro de 2009;
- Publicada na Wikipédia, o Orkut possuia em janeiro de 2008 mais de 23 milhões de usuários brasileiros, o que representava 53% dos usuários da rede social;
- Conforme reportagem publicada no jornal O Globo em 17/08/2009, o Windows Live Messenger, vulgo MSN, alcançou 330 milhões de usuários no mundo sendo que 45 milhões deles são brasileiros (maior número de usuários do MSN num mesmo país);
- O caderno Link do Estadão.com.br de 13 julho de 2009 traz a informação que cerca de 2,7 milhões de brasileiros possuem uma conta no Facebook e a procura pela maior rede social do mundo, atualmente, continua crescendo;
- O novo produto do IBOPE Nielsen Online, o VídeoCensus, publicou no ultimo trimestre de 2009 informações sobre o consumo de vídeos pela internet. O Brasil já tem mais de 60% de seus internautas navegando em sites de vídeos.
Não precisamos considerar aqui a questão se um determinado internauta possui ou não e-mail, primeiro porque a criação de uma conta é a porta de entrada no acesso a rede (RG do internauta) e segundo porque para os nativos digitais, e-mail já se tornou coisa do passado!! Por outro lado, conhecimento sobre ferramentas e repositórios não divulgados em massa, ou que não possuem atrativos comerciais, pode ser questionado com relação a atingir um público de magnitude descrita anteriormente. Por exemplo, qual a quantidade de usuários do Google Docs? Quantos internautas utilizam os grupos de discussão eletrônicos, tais como o Yahoo Groups e Google Groups, ou mesmo as ferramentas de comunicação para criação de Blogs e Foruns, tais como o Blogger e Wordpress?
Mesmo com estas incógnitas em mente, podemos imaginar que dentro do conjunto desses usuários de todas essas aplicações existe um percentual que informa em seu perfil sua profissão: - Professor. A representatividade desses Usuários Professores com relação ao universo de internautas, pode não ser igual ao percentual de profissionais do ensino na sociedade, pode até ser maior, visto que pessoas com acesso a internet possuem maior grau de instrução, ou seja, mesmo sem o respaudo dos números e de pesquisas mais recentes, poderiamos supor que o número de Usuários Professores é significativo, principalmente, porque em sua maioria os professores pertencem às classes sociais com acesso a esses recursos de tecnologia. No entanto, o que poderiamos supor sobre o uso profissional que o professor faz desses mesmos sistemas e recursos?
Dentro do seu ambiente de trabalho, e mais especificamente nas instituições privadas, o professor pode ser obrigado a utilizar as ferramentas adotadas pelo seu contratante e, consequentemente, possuir uma conta de “usuário” do LMS, ou qualquer que seja o recurso “disponibilizado” para “auxiliá-lo”. Mas o que realmente motivaria o Profissional Professor fazer uso de tais aplicações com empenho e dedicação semelhantes aos que o Usuário Professor faz dos recursos que ele até mesmo aprendeu por conta própria?
Um ponto interessante dessa questão é o fato de que muitas das ferramentas adotadas pelas instituições, como os LMSs mais comuns (blackboard, sakai, moodle, etc...), não apresentam novidades tecnológicas com relação às aplicações já disponíveis pela rede, em alguns casos elas apenas encapsulam tais aplicações (recursos) numa administração e estrutura única, a qual fica vinculada à uma hierarquia de controle (guarda-chuva da instituição).
Este mecanismo de controle é uma característica comum nessas ferramentas e, geralmente, basea-se na estrutura de cursos e departamentos, sem o foco no professor. Fazendo-se uma análise mais criteriosa, este paradigma da hierarquia pode ser um dos empecílios para adoção do recurso pelo Profissional Professor.
Outro ponto de igual importância diz respeito ao Usuário Professor não fazer uso, como ferramenta de trabalho, dos recursos já absorvidos no seu dia a dia pessoal, ou seja, utilizá-los como Profissional Professor. As razões para isso podem ser desde a falta de treinamento nos recursos para encontrar outras funcionalidades (aplicações na sua atividade profissional), até a questão de não receber incentivos, principalmente monetários, para realizar esse trabalho “extra” aula. Também devemos verificar a questão dessas pessoas que farão uso profissional de tais ferramentas, precisarem ser mais qualificadas, pois terão tarefas mais complexas e demoradas, o que exige maior remuneração e melhor formação.
Esta reflexão não visa servir como documento, ou argumentação da falta de utilidade dos recursos desenvolvidos até hoje, ou mais grave ainda, não é intenção desse texto criticar (negar) a busca por melhores ferramentas ou soluções de apoio à aprendizagem! Mesmo porque as informações acessíveis ao público no geral, e até mesmo disponíveis para os atores do processo educativo, não são suficientes para cunhar tal afirmação.
Pelo contrário, o objetivo aqui é fomentar a discussão a respeito das reais necessidades do Profissional Professor, para que este adote novas tecnologias e processos no dia a dia de seu trabalho, analisando principalmente, questões de relacionamento (contrato) com a instituição de ensino, de autoria do conteúdo, de formação do profissional e de motivação. Um dos resultados esperados seria a construção de uma pesquisa que possibilite uma análise mais profunda desse problema.
As centenas de milhares (ou até mesmo milhões) de Usuários Professores dos mais diversos recursos tecnológicos podem estar nos dizendo que existe um “problema”.
Olá Fabio
ResponderExcluirSeu artigo veio ao encontro de meu interesse: será possível o uso de ambiente virtuaL como ferramenta pedagógica na Educação Básica? O que vc pensa a esse respeito?
abçs Marilda