sexta-feira, 18 de abril de 2014

O Natural


Um neonatal sai da escuridão do útero todo sujo...
mas é lindo.
Barulhento...
mas é lindo.
Junto com as fezes...
mas é lindo.
Pegajoso...
mas é lindo.
Com gosto de sangue...
mas é lindo.
De todas as invenções humanas o parto é a mais natural.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Classe Média Caolha


Em terra de cego, quem tem um olho só é deficiente.


A rede de neurônios e ligações nervosas responsável pelo tato é maior que a rede responsável pela visão, dessa forma, a imagem formada por um cego de nascença é mais nítida (possui mais pontos) do que a imagem formada no cérebro de alguém que enxerga com os olhos.

Os excluídos não sabem o que poderiam ter, logo, seus demais sentidos são treinados a observar seu universo e encontrar o provimento de suas necessidades nos limitados recursos que lhes sobram.

O problema de alguém que enxergava com os olhos e perde a visão (parcial ou totalmente) é que ela não desenvolve seus demais sentidos, ficando dependente de algo que não tem.
Um caolho sabe o que é enxergar com os dois olhos, mas não sabe o que é enxergar com os demais 4 sentidos.

A classe média consegue enxergar o que não possui e quem não possui. No entanto, os cidadãos que se autodenominam pertencentes à “classe média” não desenvolveram os demais sentidos da vida para buscar o que lhes satisfaçam. Essa deficiência provoca uma busca incessante pelo que “enxergam” não possuírem – uma demanda ilusória.

Já para as pessoas preocupadas com o lado humano do homo sapiens, resta a seguinte pergunta: Como podemos ajudar o pior tipo de cego?

domingo, 6 de abril de 2014

Biscoito sabor república de bananas


O fisiologismo praticado no Congresso Nacional pode ser representado por um pacote de bolachas paulistas ou biscoitos fluminenses – naquelas bandas de Brasília o adjetivo 'representado' é pouco usado com o substantivo povo. O pacote de bolachas Congresso não frequenta prateleiras de supermercados convencionais, pois está vencido há muito tempo e seu conteúdo está mofado e azedo.
Você abre este pacote e encontra a primeira bolacha, o PT.
Esta é uma bolacha no pacote errado e com formato errado. O pacote é de bolacha recheada, mas a bolacha PT é de Água e Sal e redonda. Ela tinha sido fabricada para compor uma outra linha de sabores, mais adequados ao paladar dos trabalhadores, dos intelectuais com dieta restrita e das minorias com fome aguda. Sua concepção ideológica era para sanar um país muito debilitado por uma doença comum na América do Sul de décadas anteriores, mas a implantação do projeto se adaptou muito bem à maquina chamada governo – retirando o recheio, reduzindo o sabor e alterando o formato.
Hoje a bolacha PT é mais uma dentro do pacote, com a única vantagem de avisar os mais atentos que na primeira mordida pode avaliar o estado do pacote.
As bolachas do meio tem espírito peemedebista – o que o dinheiro não compra?
Essas bolachas formam um conjunto chamado blocão, composto por PP, PTB, PR, Solidariedade(com quem?) e claro, as bolachas PMDB!
Uma bolacha PMDB é parecida com cigarro, porém o câncer que ela causa já inicia metastático. A origem e desenvolvimento desse tipo de bolacha (ou do espírito que a recheia) remota a formação do Brasil, com seus quase 400 anos de escravidão, e transcorre até a última mutação que a fábrica de bolachas PMDB recebeu no período de doença generalizada que assolou a América do Sul – conhecido como período das ditaduras. Uma bolacha PMDB possui um imenso poder de absorção para sugar tudo ao seu redor e permanecer o mais encharcada possível, semelhante a um pântano que nunca deixa secar a lama no meio. O poder de contaminação do espírito das bolachas peemedebistas também é enorme, nenhuma bolacha entra no pacote e sai ilesa.
A última bolacha do pacote é a bolacha PSDB, sente-se especial, mas está toda quebrada e não faz diferença depois de um pacote inteiro de bolachas envenenadas.
Alguns pedaços da bolacha PSDB tem recheio de DEM (PFL) e o mais interessante da fabricação da bolacha PSDB é que ela não passou no controle de qualidade para bolacha PMDB, então classificaram-na como bolacha especial.
Para o paladar sofisticado talvez o sabor azedo mofado possa agradar? No entanto, está difícil encontrar alguém com estômago capaz de digerir qualquer elemento do pacote e não passar mal.
Os brasileiros que saborearam bolachas frescas e recheadas de Educação, Saúde, Lazer e Cultura tem a obrigação de conscientizar seus vizinhos (não necessariamente seus pares) a buscarem e apoiarem bolachas que realmente lhes representem e, principalmente, bolachas que trabalhem para todos os paladares, os que gostam do seu sabor e os que não gostam.
Um representante não trabalha apenas para quem lhe elegeu, ele trabalha para todo o conjunto de representados.

Texto em homenagem ao professor Belmiro Valverde Jobim Castor, quem cumprimentei apenas uma vez, mas que espero encontrar em muitos pensamentos.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Um chute nos meus bagos neotecnicistas!



Um amigo me indicou o artigo do professor Luiz Carlos de Freitas [Os reformadores empresariais da educação] e – por causa da euforia que me contagiou durante a leitura – resolvi anotar alguns pontos e apresentá-los aqui.
Para começar, o texto é com certeza do tipo "TENHO QUE LER", caso você seja um educador, pesquisador ou entusiasta da área.
Na primeira metade do artigo o professor traça as questões – baseadas em diversos estudos – sobre o que as políticas educacionais, nos EUA, de fomento à responsabilização e meritocracia realmente geraram, bem como quem eram e o que queriam os interessados na implantação de tais reformas nos sistemas – vendidas como melhoria de gestão.
No contexto de terras guaranis, algo que acabei relacionando são os livros de outro professor Luiz [Antônio Cunha] que pesquisa a História do ensino profissional no Brasil. A relação me leva a pensar sobre um possível "vácuo deixado" pela Igreja no controle do (influência no) sistema educacional brasileiro, que o empresariado está ocupando. No entanto, como relatado nos livros do professor Cunha, isso não é um fenômeno recente.

"O tecnicismo se apresenta, hoje, sob a forma de uma 'teoria da responsabilização', meritocrática e gerencialista, onde se propõe a mesma racionalidade técnica de antes na forma de 'standards', ou expectativas de aprendizagens medidas em testes padronizados, com ênfase nos processos de gerenciamento da força de trabalho da escola (controle pelo processo, bônus e punições), ancorada nas mesmas concepções oriundas da psicologia behaviorista, fortalecida pela econometria, ciências da informação e de sistemas, elevadas à condição de pilares da educação contemporânea. Denominamos esta formulação 'neotecnicismo' (FREITAS, 2012; p.5)."
"As recompensas e sanções compõem o caráter meritocrático do sistema...
Ela está na base da proposta política liberal: igualdade de oportunidades e não de resultados. Para ela, dadas as oportunidades, o que faz a diferença entre as pessoas é o esforço pessoal, o mérito de cada um. Nada é dito sobre a igualdade de condições no ponto de partida. No caso da escola, diferenças sociais são transmutadas em diferenças de desempenho e o que passa a ser discutido é se a escola teve equidade ou não, se conseguiu ou não corrigir as 'distorções' de origem, e esta discussão tira de foco a questão da própria desigualdade social, base da construção da desigualdade de resultados (FREITAS, 2012; p.5)."

Pierre Bourdieu chama essas transmutações das diferenças sociais iniciais de: Conversão da herança de capital cultural em passado escolar.
Políticas para atrair os mais bem preparados para o magistério NINGUÉM PROPÕE! Querem usar o mínimo de incentivos para alcançar a "produtividade" necessária.
O professor Martin Carnoy disse num seminário em São Paulo algo como: “Existem diversos caminhos (soluções) para reduzir as desigualdades sociais [no caso desse texto do prof. Freitas, as distorções de origem] e a Educação é uma das mais caras”!

"Praticar política pública sem evidência empírica, mais do que gastar dinheiro inadequadamente, caracteriza violação da ética já que não se devem fazer experimentos sociais com ideias pouco consolidadas pela evidência empírica disponível. A avaliação mexe com a vida de alunos, professores, pais e gestores (FREITAS, 2012; p.8)."

Um ponto interessante na argumentação do professor Freitas sobre a privatização do sistema público de educação brasileiro são os programas do governo federal ProUni e Pronatec, que apesar da questão levantada pelo professor, precisamos analisar se o governo deveria ter deixado esse NEGÓCIO da educação sucumbir, ou se deveria ter capitalizado o setor como foi feito pelos programas. No artigo da Carta na Escola, neste link, o assunto é discutido um pouco.

“Pode-se dizer que, de fato, a [responsabilização e a meritocracia] visam criar ambiência para ampliar a privatização do sistema público de educação...O conceito de público estatal e público não estatal abriu novas perspectivas para o empresariado: a gestão por concessão.
A outra modalidade de privatização..., a instituição de 'bolsas' [é] transferência de verbas públicas para a iniciativa privada.
O argumento central e oportunista dos defensores desta estratégia desresponsabiliza o Estado pela educação pública (FREITAS, 2012; p.8).”

Já com relação ao desenvolvimento do currículo, o professor Freitas nos dá um tapa na cara para acordarmos do feitiço do “senso comum” que nos diz: o simples, mínimo, básico é o melhor.

"A argumentação de que o básico é bom porque tem que vir em primeiro lugar é tautológica, ou seja, nos leva a acreditar que 'o básico é bom porque é básico'. O efeito é que, a partir deste estereótipo, não pensamos mais. Com esta lógica de senso comum, são definidos os objetivos da 'boa educação'. Mas o básico exclui o que não é considerado básico – esta é a questão. O problema não é o que ele contém como 'básico', é o que ele exclui sem dizer, pelo fato de ser 'básico'. Este é o 'estreitamento curricular' produzido pelos 'standards' centrados em leitura e matemática. Eles deixam de fora a boa educação que sempre será mais do que o básico (FREITAS, 2012; p.12)."

Em diversos pontos do texto o professor destaca a segregação gerada pelas políticas de bônus que incentivam as escolas a filtrarem seus alunos. Esta variável correlaciona-se ao que o professor Carnoy chama de fator de seleção, no qual os pais e a comunidade mais preocupados com a formação de suas crianças procuram essas escolas com “melhor desempenho” – isolando as crianças provenientes de lares que não tiverem essa preocupação (ou acesso à informação). Isso sem discutir os incentivos para burlar a lei.

"Fraudes: um dos efeitos colaterais de políticas de controle...Donald Campbell (1976, p. 49): 'Quanto mais um indicador social quantitativo é utilizado para fins sociais de tomada de decisão, mais sujeito ele estará à pressão de corrupção e mais apto ele estará a distorcer e corromper os processos sociais que se pretende monitorar' (FREITAS, 2012; p.14)."

Na questão da precarização da formação de professores, posso dizer por experiência, o vício que o material apostilado gera é difícil de largar. Depois de anos em curso pré-vestibular, quando você precisa elaborar um material de aula, a tarefa torna-se hercúlea.

"O apostilamento das redes contribui para que o professor fique dependente de materiais didáticos estruturados, retirando dele a qualificação necessária para fazer a adequação metodológica, segundo requer cada aluno (FREITAS, 2012; p.16)."

Vários pontos do artigo do professor Freitas tornam claro para mim o que levou meu amigo a recomendar a leitura para um tecnicista como eu. Mas a última seção fecha a discussão com chave de ouro, pois devemos brigar com unas e dentes pela preservação e, mais ainda, pelo fortalecimento da nossa jovem democracia.